A vida no convento e o relacionamento entre os personagens centrais é o tema da primeira parte do livro.
Há muito o que comentar sobre esse encontro de almas. Narciso reflete a consciência presente e amadurecida do indivíduo que sabe quem é e qual o seu papel no mundo. Narciso é a essência da fidalguia, e, dentre os demais, tal característica acaba por gerar uma atmosfera de frieza e poucos amigos.
Já Goldmund transpira ambiguidade: Abade Daniel ou Narciso? simplicidade ou brilhantismo? vida monástica ou liberdade? Assim como atrai amigos facilmente, também facilmente se desinteressa deles, a não ser de Narciso, a quem toma como modelo.
Embora o autor pontue constantemente as diferenças entre ambos, ressaltando as características físicas coincidentemente opostas, e declarando expressamente os contrastes de almas, me parece que Narciso e Goldmund são duas faces de uma mesma pessoa.
Narciso procurava curar em Goldmund os defeitos de si próprio, até mesmo inspirando-o a afastar-se da vida monástica, para a qual considerava-se predestinado. O próprio Abade Daniel questiona-se sobre a doença/renascimento de Goldmund, perguntando-se se Narciso também não tinha sido tratado de maneira errada durante todo esse tempo.
Também chama a atenção o jogo de nomes. Narciso é menos narcisista que Goldmund, esse sim totalmente centrado em si, seus desejos e sentidos, e incapaz de desenvolver a habilidade de perceber a vontade alheia, ou a capacidade superior de respeitá-la. Assim, logo que é "despertado" e entrega-se à sua viagem iniciática como andarilho, fica claro que não pretende apegar-se a pessoas, situaçoes ou objetivos: vai deixar que a vida tome o rumo que lhe aprouver.
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