quinta-feira, 17 de julho de 2008

Goldmund


A segunda parte do livro se inicia quando Goldmund abandona a vida monástica e toda a noção de moral e pecado que o acompanhou até então.

Há uma virada na vida do personagem, que de educado e ingênuo burguês, passa a andarilho sem rumo. De fato, é impressionante como se modifica a consciência de Goldmund após a descoberta da mãe até então esquecida, chegando a um comportamento absolutamente amoral.

Antes cheio de pudores exagerados com relação às mulheres, o personagem passa a ser dominado pelos sentidos. Assim, por exemplo, em nenhum momento questiona seu comportamento em relação às jovens irmãs Lídia e Júlia. Olha só, ele morava lá, o pai das meninas o tratava bem, e ele só pensava em sacanagem! Nada de útil saía daquela cabeça oca!

Nem mesmo o assassinato de Vítor parece comovê-lo - claro, ele vagou sem consciência por alguns dias, mas me pareceu mais susto do que remorso.

A figura do pai, por outro lado, desaparece completamente, novamente sem que o personagem jamais se questionasse sobre seus sentimentos. Até o adorado Narciso apenas ressurge na escultura do apóstolo João, e mesmo assim como uma figura romantizada (o que é da própria essência da história de João, o "discipulo que Jesus amava").

Já na primeira parte do livro era possível sentir o quanto Goldmund era egoísta e incapaz de interagir. Essa segunda parte somente vem reforçar essa característica. E apesar de Goldmund ter, até certo ponto, amadurecido (bom, ao menos fisicamente...), pouca coisa foi agregada ao personagem. O autor fala num certo padecimento, mas também ressalta que Goldmund era incapaz de fazer qualquer sacrifício, ou de abandonar um prazer imediato por um bem maior.

Bom, estou quase no fim...
Deu para perceber que não sou fã dessa figurinha fútil e egocêntrica?

terça-feira, 15 de julho de 2008

Primeiras impressões

Narciso e Goldmund, de Hermann Hesse, relata, antes de tudo, uma interessante viagem interior. O livro narra o amadurecimento do jovem Goldmund, levado pelo pai para ser educado em um convento onde conhece seu alterego, Narciso.

A vida no convento e o relacionamento entre os personagens centrais é o tema da primeira parte do livro.

Há muito o que comentar sobre esse encontro de almas. Narciso reflete a consciência presente e amadurecida do indivíduo que sabe quem é e qual o seu papel no mundo. Narciso é a essência da fidalguia, e, dentre os demais, tal característica acaba por gerar uma atmosfera de frieza e poucos amigos.

Já Goldmund transpira ambiguidade: Abade Daniel ou Narciso? simplicidade ou brilhantismo? vida monástica ou liberdade? Assim como atrai amigos facilmente, também facilmente se desinteressa deles, a não ser de Narciso, a quem toma como modelo.

Embora o autor pontue constantemente as diferenças entre ambos, ressaltando as características físicas coincidentemente opostas, e declarando expressamente os contrastes de almas, me parece que Narciso e Goldmund são duas faces de uma mesma pessoa.

Narciso procurava curar em Goldmund os defeitos de si próprio, até mesmo inspirando-o a afastar-se da vida monástica, para a qual considerava-se predestinado. O próprio Abade Daniel questiona-se sobre a doença/renascimento de Goldmund, perguntando-se se Narciso também não tinha sido tratado de maneira errada durante todo esse tempo.

Também chama a atenção o jogo de nomes. Narciso é menos narcisista que Goldmund, esse sim totalmente centrado em si, seus desejos e sentidos, e incapaz de desenvolver a habilidade de perceber a vontade alheia, ou a capacidade superior de respeitá-la. Assim, logo que é "despertado" e entrega-se à sua viagem iniciática como andarilho, fica claro que não pretende apegar-se a pessoas, situaçoes ou objetivos: vai deixar que a vida tome o rumo que lhe aprouver.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

To Bridget, just as she is!



"O Diário de Bridget Jones" não é um exemplo de boa literatura, sua autora jamais fará parte de nenhuma Academia de Letras. Mas esse livro tem algumas coisas das quais eu gosto muito: tem amigos prontos para ouvir, aconselhar e rir; tem Mark Darci, um gentleman; tem uma moça que vive fazendo besteiras, usando a roupa errada, se batendo nas coisas e falando sem pensar. E mesmo assim não perde o charme meio bobo que é só dela.

No livro, no capítulo em que ela faz um jantar de aniversário para os amigos, e dá tudo errado (errado mesmo, a sopa fica azul e a sobremesa gruda na colher e não solta), mesmo assim todos elogiam e acabam rindo muito da situação. Sem falar que Mr. Darci chegou mais cedo para ajudar! E ela nem tinha pedido!!!!! No final do jantar, todos brindam à Bridget, just as she is!

Na vida real, se alguém faz um jantar de aniversário e dá tudo errado, todos vão elogiar mesmo assim, claro. Mas quando as portas se fecharem, lá vem o "Credo, você viu...?" E o namorado vai ser o único a chegar atrasado, se é que ele vai ... mesmo depois de ela ter implorado para ele não faltar!!! E no final do jantar os "amigos" vão pensar em pedir os presentes de volta, porque pagaram mais por eles do que pagariam num jantar...

Por isso eu adoro literatura descompromissada!

Bom, eu to meio desiludida, mesmo...

Juro que no próximo post vou falar do Narciso (sim, eu já estou lendo!).

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Where the hell is Matt?

Hoje quero lhes apresentar Matt Harding, um americano de 31 anos que trabalhava numa empresa da área de computação, na Austrália. Um dia o Matt resolveu chutar o balde e sair para conhecer o mundo com um amigo. Passaram por 45 países e, em todos eles, só por farra, o amigo o filmava fazendo a mesma dancinha idiota (tipo aquele cara que fotografou o mesmo sofá vermelho all over the world, e chamou de arte... ). Bom, resumo da ópera, os vídeos dele (foram vários!) bombaram, e o Matt aí ganhou rivers de dinheiro.

Essa é uma das leituras a partir do caso. Porque parece uma bobagem, mas mesmo sem intenção, houve uma mobilização interessante... meio transcedental!

Assista ao vídeo e faça a sua análise:


terça-feira, 8 de julho de 2008

Decálogo do Leitor - segunda parte

VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.
VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos (essa foi prá vc, Juan!!!). Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.
VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.
IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.
X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.

Boas leituras!

domingo, 6 de julho de 2008

Decálogo do leitor - primeira parte

I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido (nooooossa!). Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.
II - Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.
III - Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.
IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.
V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.
Por Alberto Mussa
Publicado na Revista Entrelivros

sexta-feira, 4 de julho de 2008

FLIP 2008

FLIP 2008 - de 2 a 6 de julho.


Sorte de quem tá lá!!!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Dificuldade com neologismos?

Alguém aí está com dificuldades na leitura, atrapalhado com as palavras?
Sugiro este Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
Espero que seja útil...

terça-feira, 1 de julho de 2008

Hesse no Orkut!



Ainda não posso comentar sobre Narciso e Goldmund.

Não comecei a ler...

Por outro lado, achei uma comunidade no Orkut chamada "Narciso e Goldmund - Hesse", que conta com corajosos 6 membros. O dono da comu colocou o seguinte recado:

Nessa comunidade não é proibido discordar, apenas peço que o façam com
bons argum
entos e sem ofensas, ok?Também não serão tolerados
tópicos do tipo: eu minha amiguinha na webcam..., gerador de
créditos...


Com 6 membros, sei lá, fica até meio difícil discordar (embora, como ele disse, não seja proibido...) E nem vou citar as outras duas, uma com 2 membros e outra sem dono e sem membros.
Talvez pudessemos engrossar essas fileiras... Ou talvez um blog prá começar já está de bom tamanho...
Mas é um caso a se pensar!